7 Minutos de leitura 6 set 2023
Reimagining Industry Futures

Como repensar os modelos de negócios para aproveitar a disrupção do 5G?

Por José Ronaldo Rocha

Sócio da EY e Líder de consultoria para Tecnologia, Mídia & Entretenimento e Telecomunicações (TMT) para LAS

Sócio da EY e Líder de consultoria para Tecnologia, Mídia & Entretenimento e Telecomunicações (TMT). Atua em projetos estruturantes na América Latina.

7 Minutos de leitura 6 set 2023
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O caminho para a transformação que o 5G pode criar é pavimentado com muitos desafios e questões complexas. Para liderar a corrida, as empresas precisam se preparar agora.

Da mesma forma como a chegada da conectividade 4G possibilitou o desenvolvimento de serviços como aplicativos de mobilidade e redes sociais, que hoje são aspectos indissociáveis do nosso cotidiano, a comunicação 5G trará diferentes possibilidades, que serão exploradas em cada mercado de acordo com as demandas e necessidades dos clientes. E, assim como aconteceu no passado com uma série de inovações, esse futuro ainda não parece muito previsível. Sabemos que mudanças virão – mas quais serão elas?

A dificuldade em fazer essa transição no 4G abriu possibilidades para que disruptores ocupassem espaços que poderiam ter sido dominados pelas próprias empresas de telecomunicações. Um bom exemplo disso são os aplicativos de mensagens: o WhatsApp está presente em praticamente 100% dos celulares brasileiros e é a forma prioritária de envio de mensagens de texto, vídeo e áudio entre pessoas. O SMS, que era a solução disponibilizada pelas operadoras nos tempos do 3G, acabou sendo superado por inovações que vieram de fora do segmento de telecom.

De acordo com a edição mais recente do estudo Reimagining Industry Futures, realizado pela EY, 74% dos entrevistados no Brasil afirmam que suas organizações precisam reimaginar o futuro de seus setores para extrair mais valor do 5G, e 71% afirmam que será necessário fazer um redesenho organizacional para obter mais valor com a nova geração de conectividade.

O alicerce de um futuro imprevisível

A tecnologia 5G – e no futuro sua sucessora 6G – representa a construção de uma plataforma de conectividade que será a base de tudo o que será criado nos próximos anos em termos de produtos e serviços. Por ter esse caráter estruturante, a 5G precisa ser flexível para permitir o desenvolvimento de novos modelos de negócios, nos mais variados segmentos.

Isso também significa que, pelo menos no início da trajetória evolutiva da tecnologia, não veremos a adoção massiva de serviços específicos: o futuro será construído a partir do desenvolvimento de múltiplos casos de uso que, com o tempo, passarão a encontrar pontos de conexão.

Assim, especialmente nas aplicações B2B, cada negócio deve investigar as oportunidades de “low hanging fruits” disponíveis, para obter ganhos rápidos que comprovem a viabilidade financeira da tecnologia e estimulem uma aplicação cada vez mais intensiva. Mas, hoje, 5G representa uma folha em branco para ser escrita a partir da capacidade de inovação de cada negócio. É hora então de reimaginar os modelos comerciais do setor.

Network as a Service: um futuro possível para 5G

Mesmo nas redes 4G, empresas de telecomunicações têm oferecido ao público B2B serviços de rede cobrados as a Service. É o caso, por exemplo, de cloud data center, em que a infraestrutura é oferecida para os clientes, enquanto as operadoras garantem a segurança e a estabilidade da entrega.

Com o 5G, esse movimento será acelerado, uma vez que essa tecnologia estruturante se coloca como base para a implementação de IoT, Inteligência Artificial, analytics, automação e robótica, entre outras.

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Para que esse movimento ganhe tração, porém, fornecedores e organizações precisam mudar o mindset da monetização dos serviços. O estudo Reimagining Industry Futures mostra que as empresas avaliam a contratação de serviços 5G sob a mesma lente do 4G, contratando conectividade e devices como upgrades da estrutura móvel existente. A aquisição de 5G como um serviço contratado está apenas na quarta posição entre os modelos preferidos de investimento, atrás ainda da construção de redes próprias e do uso de intermediários (como Mobile Virtual Network Operator - MVNOs). No mercado europeu, a preferência pela contratação de serviços se destaca, indicando a região como um potencial centro de experimentação e inovação em aplicações de 5G nos próximos anos.

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Fatores estruturantes das telecomunicações nas diferentes regiões do mundo explicam a maior ou menor aderência a modelos as a Service. Para que negócios contratados como serviços tenham uma performance compatível com as necessidades dos negócios, a nuvem precisa estar mais próxima dos clientes para diminuir a latência. Com isso, a Europa também deverá apresentar mais alternativas em Edge Computing nos próximos anos, uma vez que esse modelo também depende de uma aproximação física entre o serviço e o cliente.

Hoje, as possibilidades de desenvolvimento de soluções e modelos de monetização ainda ocupam uma posição secundária, uma vez que a infraestrutura está sendo colocada em operação. Redes privativas também estão sendo estabelecidas e apontam para um cenário em que um cliente poderá ter à disposição vários modelos de negócios. Certamente, a aplicação de 5G não se dará de forma homogênea – uma vez que as necessidades são bastante diversas.

Nos próximos anos, veremos uma evolução tecnológica baseada em casos de uso, impactando cada local de uma forma diferente. Não será incomum uma fazenda receber vários nós de 5G para monitoramento das culturas, ao mesmo tempo em que a cidade mais próxima ainda use a geração anterior de conectividade.

Dois caminhos para a evolução 5G

Para as empresas, 5G é um caminho que exige uma abordagem com dois horizontes distintos. O primeiro caminho é o de curto prazo, de otimização dos processos já existentes e de avançar com as capacidades e habilidades já existentes. A otimização operacional e a melhoria de processos, a partir do uso de sensores e da Internet das Coisas, gera impactos positivos imediatos no negócio e indicam claramente, para toda a empresa e para o mercado, qual é o potencial a ser alcançado.

Ao mesmo tempo, os ganhos de otimização de hoje precisam levar a passos mais amplos para o futuro. Os horizontes apresentados pelas iniciativas táticas estimulam o desenvolvimento do que é inovador, levando a uma transformação mais radical e potencialmente disruptiva para modelos de negócios, empresas e segmentos inteiros. Avance hoje com a otimização para preparar a disrupção de amanhã.

As organizações devem contar com áreas de inovação que se apropriem dos ganhos do 5G e consigam estruturar ações que vão além das melhorias operacionais. Caso contrário, elas estarão tão focadas na otimização dos processos atuais que poderão perder de vista iniciativas importantes para sua aceleração futura. Nesse cenário, é preciso estar pronto para se atualizar sempre, o que não é possível caso não exista uma cultura voltada à transformação do negócio.

Para que a transformação disruptiva aconteça, os profissionais que atuam nos negócios precisam ser preparados. Upskilling e reskilling serão essenciais para que as equipes estejam mais prontas para lidar com um futuro ainda difícil de prever – sem a reeducação dos times, as empresas não terão quem faça a transformação acontecer.

Esse é um movimento intenso, que precisa começar a acontecer hoje. É um caminho inexorável, para o qual as empresas precisarão dedicar tempo, atenção, inspiração e esforço. É também uma iniciativa conjunta, pois nenhum negócio poderá, sozinho, identificar todas as possibilidades para seu segmento ou todas as ameaças que terá de enfrentar. Todas as cadeias de valor precisam pensar no 5G como uma folha em branco e uma possibilidade de reinvenção – caso contrário, a tecnologia se torna apenas uma forma mais veloz de continuar fazendo o que já existe hoje.

As organizações indicam estar atentas a isso. Mais de 80% dos entrevistados brasileiros pretendem priorizar vendors que deem suporte a novos modelos de negócios e 91% acreditam que colaborar com outras organizações (ou mesmo com outros setores) será importante para desenvolver negócios mais sustentáveis nos próximos cinco anos.

Aprender fazendo

Mesmo nos estágios iniciais de uso da conectividade 5G, já está claro que a construção de uma estratégia de negócios passa pela criação de um business case escalável e rentável. Essa é uma forma de aplicar, na realidade de cada negócio, soluções específicas que tragam resultados concretos – e gerem internamente a certeza de que os ganhos obtidos são apenas o início de uma trajetória de transformação do negócio.

Levando em conta que 80% dos dados disponíveis para qualquer empresa não são usados ou são mal aplicados, faz muito sentido utilizar o 5G como uma tecnologia para estruturar a coleta e análise de dados nos negócios. A proliferação de sensores e de tecnologias acessadas as a Service dá ainda mais possibilidades para que os dados sejam utilizados para a tomada de decisões inteligentes, aumentando a resiliência e a capacidade de adaptação das empresas.

Ainda assim, não existe uma abordagem “one size fits all”: cada negócio precisa avaliar, dentro de seu cenário operacional e estratégico, que iniciativa eleger como estudo de caso prioritário, quais indicadores de desempenho utilizar e que tipo de solução tecnológica baseada em 5G utilizar. Para cada caso haverá uma cadeia distinta de inovação – e, por isso, cada empresa precisa enxergar sua realidade e desenvolver seus caminhos, regras, processos e KPIs.

Com o desenvolvimento de casos de uso em diversas empresas, de vários portes, a partir de tecnologias diferentes, nos próximos anos serão desenvolvidas soluções verticais, que fazem sentido em determinados setores da economia. As especificidades B2B estimulam a construção de respostas setoriais para os desafios de negócios, estimulando a massificação, o desenvolvimento de benchmarks e a disseminação de melhores práticas.

Esse é um fluxo que inicia individualmente, em cada negócio, mas, com as lições aprendidas, passa a fazer sentido setorialmente e, posteriormente, em ecossistemas inteiros. E é um fluxo que, racionalmente, seria diretamente influenciado pelos resultados alcançados, mas que, em termos práticos, esbarra em demandas regulatórias, setoriais e orçamentos.

Por isso, para que a tecnologia 5G viabilize o desenvolvimento de novos modelos de negócios em diferentes segmentos da economia, é importante iniciar a transformação por áreas onde há mais oportunidades de ganhos ou de redução de perdas. Agronegócio e mineração são dois exemplos de setores que liderarão os avanços 5G no mercado brasileiro, pois têm o potencial de gerar retornos importantes para as empresas e as operadoras de telecom.

Trata-se de uma jornada longa e em constante mutação. Até mesmo por isso, a hora de começar é agora, quando o grande potencial de ganhos e de diferenciação estratégica ainda está na mesa.

 

Autores:

José Ronaldo Rocha - Sócio da EY e Líder de consultoria para Tecnologia, Mídia & Entretenimento e Telecomunicações (TMT)

Antonio Parrini Pimenta - COO da Siga Antenado

Marcos KarpovasSócio da EY para Tecnologia, Mídia & Entretenimento e Telecomunicações (TMT)

Resumo

O estudo Reimagining Industry Futures, realizado pela EY traz uma série de insights que podem contribuir para que as empresas brasileiras identifiquem aplicações e caminhos para a implementação de 5G em suas atividades. Esse sucesso, porém, deve ser construído passo a passo, para que as empresas e a sociedade possam se adaptar, transformar suas culturas e direcionar esforços de maneira estratégica rumo ao crescimento.

Sobre este artigo

Por José Ronaldo Rocha

Sócio da EY e Líder de consultoria para Tecnologia, Mídia & Entretenimento e Telecomunicações (TMT) para LAS

Sócio da EY e Líder de consultoria para Tecnologia, Mídia & Entretenimento e Telecomunicações (TMT). Atua em projetos estruturantes na América Latina.

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